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segunda-feira, 14 de junho de 2010

A tal da idade.


“Todo mundo quer ir para o céu, mais ninguém quer morrer.”
É o trecho de uma música. O romance da universitária otária, da Blitz.
E que não deixa de ser verdade.
Mas o que eu acho que é mais verdade é que ninguém quer morrer. Ponto.
Mas aí alguém pode perguntar. E os suicidas?
Eu acho que eles também não querem morrer.
Só que também não querem viver e esse querer fica maior por um instante.
E esse instante, às vezes, basta.
Bom, eu sei que eu não quero morrer.
Pode colocar lá no meu epitáfio: Absolutamente contra a minha vontade!
Só vou porque não tem mesmo jeito.
Mas vou logo esclarecendo que se fosse pra viver para sempre, teria que ser congelada no tempo no máximo aos 40 anos.
Hummm! Melhor 39 que esse negócio de “enta” é meio chato.
Ah, gente! Vamos combinar que a velhice é uma merda.
Vejam só: Copa de 2010!
O Brasil pode ser hexa. E eu me lembro do tetra como se fosse ontem. A era Dunga. Disputa de pênaltis contra a Itália. Baggio mandando a bola pra arquibancada. “É tetra! É tetra!”, gritava Galvão Bueno (bom, o locutor continua o mesmo, o que poderia servir de consolo se ele não fosse tão chato).
E lá se vão 16 anos.
E muito da minha juventude.
Hoje, fui ao Shopping com uma amiga que está precisando marcar uma visita a uma clínica estética. Ela disse que ia deixar para depois porque tinha outras prioridades no momento.
Trocar o carro, pintar o apartamento, reformar a cozinha.
Eu mandei na lata:
- HELLO! Acorda Bela Adormecida, só nos restam 16 anos de juventude, sendo muito otimista e apelando pra São Botox e São Ácido Hialurônico. E muita academia.
Depois é a velhice.
Claro que vai ser uma velhice feliz, produtiva, com saúde, família, amigos e se Deus quiser com todos os dentes, mas a velhice.
Alguém vai me dizer que isso é uma coisa boa?
Até que considerando a alternativa é uma ótima.
Mas o fato é que daqui a 16 anos, na copa de 2026, provavelmente eu não vou me lembrar tão bem da de 2010 quanto eu me lembro da de 1994 (vocês têm certeza que não foi ontem?).
Se o Brasil não ganhar, então, vocês podem contar que eu não vou me lembrar mesmo.
Ah, a idade!
A idade é como um ladrão.
Ele vai te roubando aos poucos e você nem se dá conta.
Quando a gente começa a entender melhor a vida o ladrão te nocauteia, te traz dores, te confunde a mente, te bambeia as pernas e te arqueia as costas.
E o pior, silenciosamente, rouba a sua identidade.
Você vai se pegar olhando pros dedos tortos de suas mãos pensando: “estranhos, claro que não podem ser meus.”
E vai ser assim com cada parte de você.
De vez em quando, no seu sorriso, no brilho do seu olhar, você pode ter um vislumbre de você mesmo, mas logo o estranho que tomou o seu lugar vai estar te encarando no espelho.
E piora.
E então é bye, bye.
Bom, esse não é um texto pra deprimir ninguém. Principalmente eu mesma.
Estou resignada ao plano de Deus. Mesmo que eu não o entenda.
Acredito de verdade que certas coisas devem permanecer mistério.
Mas nem por um segundo eu vou duvidar de que a vida não é só isso.
Ah, mas não é mesmo.
A minha alma é imortal. Eu sei disso. Ela sabe.
Então já que, como cantou Cazuza – que já deve estar por dentro de tudo –, o tempo não pára, eu é que não vou ficar vendo o tempo passar.
Vou é aproveitar cada minuto. Cada segundo.
Da vida, da minha família, dos meus amigos, do meu reflexo no espelho.
E vou aproveitar que aquela amiga que eu falei vai, afinal, fazer a visita à tal clínica de estética que eu recomendei e vou com ela. Vou cuidar de mim.
Olhando o lado bom da coisa, talvez a velhice me traga bom senso.
E tranqüilidade.
O que vai ser uma coisa boa.
Mas enquanto ela não chega, vou me jogar na vida.
Quem vem comigo?

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